Imaginem esta situação:
Ansiando por uma vida mais saudável, você se matricula em uma academia: no primeiro dia é recebido por um amistoso e animado professor que, a despeito de quaisquer anseios que possam te corroer, começa a explicar minuciosamente sobre algum aparelho da academia:
“Dentre as três modalidades do levantamento de peso básico, hoje, em sua primeira aula, gostaria de apresentar o supino!
O aparelho supino serve para exercitar, principalmente, os músculos peitorais maiores, mas também atua em outros músculos como o deltoide, o serratil anterior, o coracobraquial e o tríceps braquial. Existem variações criadas para trabalhar outros subgrupos de músculos…”
Apesar da aula não conter as respostas específicas às suas questões, a sucessão de informações acaba sendo relativamente interessante: a forma quase apaixonada com que o professor informa sobre as variações, o modo de utilização, a postura correta, os resultados que poderão ser obtidos na postura, na circulação… você mal pode esperar para “cair dentro” e por em prática tanta teoria!
Só que, ao concluir o falatório, o professor simplesmente observa que seu horário acabou: agradece pela presença e pela escolha daquela academia, te acompanha até a saída e se despede prometendo que na próxima aula será ainda melhor!
Frustrado e ainda com tantas dúvidas, você parte com ainda mais questões do que quando chegou…
Seus vizinhos te veem chegando em casa com roupas de academia e… afinal, o que isso tem a ver com as igrejas? Simplesmente TUDO!!!
Já faz um tempinho que estou querendo escrever acerca de uma experiência que vivi e as considerações sobre o assunto, mas o calor absurdo tem, violentamente, me impedido de parar na frente do computador: fica praticamente impossível fazer raciocínios minuciosos com o suor escorrendo pelo corpo! Concatenar ideias até que se tornem em texto então… nem pensar!
Mas esse desconforto já foi pior na época em que alcancei os 210 Kg… e é justamente para afastar o risco de voltar a ser um sapo-boi (como tem muita gente, inclusive alguns blogueiros, virando…) que me forço a colocar a mente em “modo de espera” e, apesar da temperatura insana, enfrentar uma rotina (quase) diária de exercícios numa academia.
Foi lá que, conversando com uma professora que descobri ser batista após ter frequentado a IURD, ouvi a frase que me remeteu a todo o raciocínio que tento expor nesta postagem:
“Não dá para ser cristão sem frequentar uma igreja…”
Será isso verdade? Na era da apostasia as empresas eclesiásticas têm cumprido verdadeiramente seu papel como Igreja? Para desenvolver um raciocínio sobre isto, permitam que continue o raciocínio do ponto onde parei:
Seus vizinhos te veem chegando em casa com as roupas de academia e, apesar de alguns se desfazerem dizendo que você logo vai desistir ou que aquilo não é para eles, há outros que se interessam bastante diante da perspectiva de uma vida mais saudável. No dia da próxima aula alguns deles já estão até matriculados e vocês vão todos juntos para a academia!
Novamente lá está o animado e amistoso professor pronto para recebe-los e, sem conseguir responder às tantas questões formuladas pelo grupo, inicia mais uma aula teórica, dessa vez sobre “Leg Press”:
“O Leg Press é um equipamento onde são exercitados, principalmente, os quadríceps, os músculos isquiotibiais, o glúteo máximo e as panturrilhas. A variação do ângulo entre a base e o encosto (e/ou a posição dos pés sobre a placa) é que dará mais ênfase a um ou a outro grupo de músculos…”
A aula não deixa de ser interessante, mas… na hora em que todos imaginam que vão por o pé na placa… acabou o tempo! O professor agradece a todos pela presença e os conduz até a porta enquanto se despede e promete que a próxima aula será “ainda melhor”!
Acabou a ilustração.
Assim como nessa academia fictícia, a maior parte das empresas eclesiásticas de hoje tem vivido de “aulas inaugurais”, falando sobre coisas que acabam nunca pondo em prática:
“A Bíblia é a Palavra de Deus! É o único livro que mostra o caminho para a vida eterna! Só ali você vai encontrar uma regra de vida e fé que permitirá uma aproximação legítima do verdadeiro conhecimento e do Senhor Deus…”
Há aquelas que até citam trechos desse livro tão poderoso, mas muitas tiram tudo de seu contexto original e outras são capazes até de distorcer seu conteúdo de modo a se adequar aos propósitos de quem está falando… e o povo, manipulado, nem se incomoda de ir lá ver se as coisas são mesmo do jeito que estão sendo apresentadas: vão engolindo lixo teológico e construindo um cristianismo podre, onde todos que vierem após eles saberão ainda menos do que está contido na Palavra!
Já falei sobre isso em “Autoridades?”, mas não custa reforçar que o verdadeiro cristão não foi feito para ser um eterno “bebê espiritual” e muito menos jurar submissão a algum líder corrupto: se vai para Igreja ou com o sincero objetivo de PRESTAR CULTO ao Senhor Deus ou para SER EDIFICADO ou EDIFICAR. Se nada disso está acontecendo… para que ir a uma empresa eclesiástica?
Para fazer fofoca? Ver o carro do irmão fulano ou o vestido decotado da irmãzinha (sem deixar de dar uma olhada “profunda”…)? Para aprender ou comprar “fórmulas mágicas” (óleos, águas, flores…) que vão “obrigar” Deus a atender suas concupiscências? Para dançar?!?
Ora bolas, porque ao invés de “ir à igreja” as pessoas não passam a “ser a igreja”?
Simples: porque ninguém quer pagar o preço para ser um cristão genuíno!
Naquele tarde quente, quando me dei conta que estava praticamente sozinho dentro da academia, é que percebi a analogia entre a vida cristã e a prática regular de exercícios: ambas exigem um nível de disciplina e perseverança que poucos se dispõem a sustentar! Ninguém quer ter um compromisso pessoal e íntimo com Deus, preferindo acreditar que basta ir até uma empresa eclesiástica para que isso aconteça.
Se você engole tudo o que seu líder prega como se ele fosse inerrante, não merece ser chamado de cristão:
“E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus. Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.” (Atos 17:10-11)
Se você até é capaz de discernir as abobrinhas que alguém falou ou cometeu, mas se cala pelo fato daquela heresia ter partido de algum “líder”, também não merece ser chamado de cristão:
“Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; Isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo.” (1 Coríntios 5:9-13)
“Não aceites acusação contra o presbítero, senão com duas ou três testemunhas. Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor.” (1 Timóteo 5:19-20)
Não pense que basta abrir a Bíblia e ler um trecho qualquer: se você é incapaz de estuda-la com atenção em busca de DISCERNIMENTO e acha que o Senhor Deus fica brincando de “sortear versículos”… não merece nem mesmo ser chamado de cristão!
“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” (João 14:26)
E como poderá o Espírito Santo te lembrar de algo que você nunca aprendeu? Quer que a Palavra entre em sua mente por osmose? Se não consegue ler a Bíblia por si próprio e permanece em condição de eterna dependência, está perdendo uma ótima oportunidade de adquirir sabedoria:
“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.” (Salmos 1:1-2)
“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” (Hebreus 4:12)
Se você pensa que as atividades sociais são alguma coisa que possa justificar uma empresa eclesiástica, lembre que até a LBV também faz grandes doações…
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios 2:8-9)
E esta FÉ citada na passagem acima não é qualquer fé, mas é especificamente a fé no Senhor Deus, aquela que pode ser obtida única e exclusivamente pelo conhecimento e pela prática de Sua Palavra! É por isso que eu sempre repito: não adianta juntar milhares de pessoas em torno de um belo objetivo, pois mesmo havendo as mais nobres intenções se aquilo for contra a vontade de Deus… todo movimento e toda a multidão serão inúteis!
Poderia continuar a lista, mas ainda há outras considerações que devem ser registradas:
1. Imaginemos um atleta que tenha se dedicado por muito tempo a praticar exercícios com os membros superiores, porém não dedicou atenção alguma às pernas… teremos aí uma hipertrofia tão indesejável quanto uma doença!
Da mesma forma existem algumas empresas eclesiásticas que até permitem algum tipo de prática, mas muitas dessas omitem que a graça de Deus é multiforme, ou seja, não pode ser moldada conforme a vontade de (e/ou experiência vivida por) uma única pessoa.
Tal procedimento criará também verdadeiras doenças naquilo que deveria ser originalmente o “Corpo de Cristo”:
Gente malhando demais a parte espiritual (superstição, simpatias, “macumbas gospel”…);
Gente se exercitando apenas com base no que pode ver e tocar (cessacionistas);
Gente praticando levantamento de cofre (teólogos da prosperidade);
Gente exercitando a língua e a garganta (difamadores, fofoqueiros e aqueles outros que berram como se estivessem sofrendo tortura… esses então… são inúmeros!).
Um ponto a destacar é que cada um desses consegue enxergar claramente os erros alheios, mas como todos são ótimos macacos escritores, ninguém fala nada para não quebrar o telhado de vidro do outro e tudo segue em frente “muito bem”: se não houver equilíbrio na construção de um cristão durante seu discipulado, infelizmente será muito difícil de consertar a deformação a partir do momento em que este se considerar (ou for considerado) “pronto”, se é que um dia chegará a este ponto…
2. Acabei de falar que a graça de Deus é multiforme, mas sempre aparece algum “gênio” falando sobre “brasa fora do braseiro”, “sal fora do saleiro”… e aí sou obrigado a ficar imaginando como podem ter ocorrido tantas e tão maravilhosas exceções:
Moisés esteve por (apenas) 40 anos no deserto até ficar pronto para sua missão… isso não o enfraqueceu?
Qual o tamanho da “cobertura de oração” do profeta Elias?
Qual o templo frequentado pelo profeta Daniel?
E João Batista, coitadinho: viveu a vida inteira no deserto e foi degolado antes mesmo de poder entrar em uma igreja…
Não estou afirmando que estar fora das empresas eclesiásticas seja bom, pois algumas poucas ainda são Igrejas.
Posso apenas afirmar que nem todo aquele que “está fora” é um perdido ou desviado… e, não por orgulho, ofereço meu próprio exemplo a ser avaliado através do conteúdo de meus textos e discussões publicados nos últimos seis anos: se eu permanecesse sendo enganado e manipulado, poderia ter pesquisado e aprendido tanto? Teria praticado o evangelho ou vivido em uma eterna “aula inaugural”?
Numa academia, dois indivíduos podem ter programas de exercícios completamente diferentes (pesos, repetições…) para atingir um mesmo objetivo. Da mesma forma algo que se aplica a mim pode não servir para você e vice-versa: nosso único ponto em comum pode ser apenas a Palavra de Deus… e esta Bíblia é mais do que suficiente para que possamos equalizar nossas diferenças e atingir nosso objetivo em comum: a salvação!
“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.” (Romanos 10:17)
3. Não existe “atalho” e muito menos “anabolizante”. Como conseguir conhecimento e intimidade com Deus sem busca-lO a cada momento?
Para quem duvidar disso, uma tira para descontrair e refletir:
Acerca do título, “no pain, no gain!” (do inglês: sem sofrimento, sem ganho!), quis me referir àqueles que consideram o ato de ler a Palavra de Deus e meditar sobre o que leu como algum tipo de sofrimento, tortura ou castigo. São principalmente estes indisciplinados preguiçosos que não podem “viver sem igreja” sob a pena de “se perder no mundão”…
Será que realmente foram salvos ou estão apenas frequentando a igreja por pensar que cada dia de presença dá direito a um pedacinho do “bilhete de acesso ao céu”, a ser validado no último momento?
Particularmente considero o ato de ler e meditar na Palavra de Deus algo muito prazeroso, mas isso só ocorreu com o tempo… será que um dia vou considerar os exercícios na academia da mesma forma? Hei de ter muita disciplina até atingir tal ponto… muita perseverança!
Sei e admito que ainda restam muitas considerações a abordar: voltando à ilustração, podemos imaginar a possível competição de vaidades entre os vizinhos que, mesmo sem malhar, vão arrumar um jeito de apresentar “resultados” querendo se destacar dos demais; a questão da evangelização ainda mais vazia que a própria “aula inaugural”… e por aí vai, mas o calor não me permite ficar parado aqui digitando por enquanto. Portanto e mais do que nunca, convido os leitores a comentar expressando suas considerações.
Concluo repetindo que não há um padrão, devido à MULTIFORME graça de Deus: frequentar uma empresa eclesiástica não é atestado de salvação e muito menos sinal de conhecimento da Palavra! Frequentadores ou não, somente através da disciplina e da perseverança havemos de atingir nosso objetivo que, coincidentemente, já nos foi apontado pelo apóstolo Paulo:
“Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade. Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas; Para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo; Retendo a palavra da vida, para que no dia de Cristo possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão.” (Filipenses 2:13-16)
“E seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé; Para conhece-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte; Para ver se de alguma maneira posso chegar à ressurreição dentre os mortos. Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Filipenses 3:9-14)
O Senhor Deus continue protegendo e abençoando a todos aqueles que O amam acima de todas as coisas.